A paralisação do Instituto de Artes e a ocupação do gramado

Oi! Nessa última semana (que também foi a última semana de aula) aconteceu uma paralisação no Instituto de Artes e resolvi escrever um post a respeito. Fiquei meio em dúvida se escrevia ou não, vai ser mó tosco se começarem a me chamar de baderneira maconheira, mas dane-se. Tem gente gravando vídeo usando a voz da mulher do google pra falar que os alunos do IA são contra a construção de bibliotecas. (não vou divulgar o vídeo) Pelo menos eu não escondo a minha cara e não tenho vergonha de lutar pelo que acredito.

paralisação e ocupação do gramado

O gramado e a BORA

Em frente ao IA temos um grande gramado, que usamos como espaço de convivência. Honestamente, nunca tinha pensado nesse termo, mas é isso que o gramado é. Lá temos apresentações de artes, bazares, piqueniques, rodas de samba, os ensaios da Bateria Alcalina, é um atalho até o bandejão etc.

Piquenique

Piquenique

Árvore!

Solfejando no lençol

Decameron

Sexta-feira, dia 21, fomos surpreendidos com pilares de cercamento em torno do gramado. O que acontece é o seguinte: nesse gramado será construída a Biblioteca de Obras Raras, obras que atualmente ficam no terceiro andar da Biblioteca Central (vizinha do gramado) e às quais os alunos de graduação nem têm acesso. Não estou questionando a biblioteca por ser acessível apenas aos alunos da pós, é que tem muita gente falando “precisa de mais bibliotecas, tive problemas pra pegar livros” etc, então só pra esclarecer: é uma biblioteca apenas de consulta, os livros não circulam e os alunos da graduação podem consultar apenas o acervo online.

paralisação e ocupação do gramado

Depois de duas assembleias, contando também com alunos de outros institutos como IFCH, IE e IG, foi decidida a paralisação do IA na quarta-feira para que houvesse uma reflexão sobre o gramado, os espaços de convivência dentro da Universidade e também os recentes protestos pelo país.

Eu abracei a ideia. Acredito que uma Universidade não se faz só com prédios. Áreas livres são importantes também. O convívio entre os alunos é importante. A Universidade não deveria ser apenas um lugar para estudo e formação de profissionais, mas também um espaço para discussão e formação de cidadãos conscientes.

Não somos contra a construção da biblioteca. Eu sou uma traça de livros, é óbvio não seria contra uma biblioteca (mesmo que eu não possa nem olhar para seus livros…). O questionamento é sobre a construção num espaço que utilizávamos. E sobre o cercamento, que é o que mais me incomoda e foi feito literalmente da noite pro dia. (“Que caiam os muros e construam-se as pontes”, diz um cartaz que está no gramado)

Não é só sobre o gramado

Da mesma forma que os famosos 20 centavos, essa não é a única discussão. Já perdemos outro gramado e nossa cantina para a construção de um teatro (que ainda não está pronto). Essa inclusive não foi a única cantina fechada. Então não foi o primeiro gramado perdido nem será o último se os estudantes não se manifestarem, até que só haja prédios e mais prédios. Vão destruir o Teatro de Arena, espaço utilizado para apresentações na praça do ciclo básico. E já está prevista a construção do Ciclo Básico III no gramado do IFCH. Então é evidente que a reitoria só enxerga os gramados como “espaço para construção”. Os estudantes protestaram na época da cantina; eu era aluna do IC e acompanhei pelo orkut o que estava acontecendo. Teve protestos, ocupação… e a cantina foi destruída à noite. Quando os alunos chegaram pela manhã, não tinha mais nem escombros. Parece um pouco com essa construção começada na última semana de aula, né?

Além do gramado, foram discutidos outros assuntos. A falta de professores no instituto, por exemplo. Faltam professores de vários instrumentos na Música. O curso de Violão erudito está fechado, os alunos estão passando com 10 na matéria de instrumento sem nunca ter tido uma única aula. A situação não está muito melhor no curso de Artes Visuais. E imagino que nos outros dois (Dança e Cênicas) também não, não sei porque não tenho muito contato com os alunos, já que o prédio deles fica em outro canto da Unicamp. O que também deveria ser uma reclamação. E a infra-estrutura? O projetor de uma das salas está com cor verde e uma estranha faixa preta no meio da imagem. Ontem foi a aula de encerramento das oficinas de musicalização para crianças, fomos mostrar algumas fotos pros pais e mal deu pra ver. Enfim, é muita coisa para se refletir, pensar, reclamar, reivindicar. Por isso a paralisação.

A paralisação e o piquete

Em dois dias de assembleia, foi decidida a paralisação na quarta-feira, dia 26, com piquete. Eu cheguei às 7hs pra ajudar. Bloqueamos as escadas dos dois lados com cadeiras, bancos e até uma estante, já que as salas de aula ficam nos andares superiores. Fiquei sentada na escada com mais algumas pessoas. A ideia era fazer as pessoas aderirem à paralisação. Não íamos impedir ninguém de subir através da força, né?

paralisação e ocupação do gramado

Um certo professor da composição se exaltou bastante e subiu por cima do nosso bloqueio, acompanhado pelos alunos que deveriam apresentar o trabalho final. Outra professora expressou seu desgosto com o bloqueio, mas não subiu. Muitos alunos ficaram revoltados porque queriam estudar, fazer prova, etc. Nós tentávamos explicar o motivo da paralisação e a importância de um debate.

Por volta das 9hs o Diretor do Instituto veio falar conosco. O que é uma coisa que acontece, tipo, nunca. Com todos os alunos sentados no chão, conversamos sobre o gramado, a importância dos espaços de convivência, a falta de comunicação da reitoria com os alunos, o cercamento, o que poderíamos fazer a respeito.

paralisação e ocupação do gramado

Às 10hs os ânimos se alteraram porque outra professora da composição insistiu em dar uma prova. Alguns alunos estavam apoiando a paralisação, mas vários queriam fazer a prova porque precisavam logo de férias por causa de vários compromissos. A paralisação não era pra prejudicar os alunos, com um pouco de boa vontade dava pra encontrar uma solução. Por exemplo, sugeriram da professora deixar as provas para outra pessoa aplicar no dia seguinte, mas ela não quis. Não faz sentido ter uma paralisação enquanto as pessoas continuam fazendo provas e apresentando trabalhos. A ideia da paralisação é bagunçar um pouco o cotidiano, senão de quê adianta? Tirar as pessoas da zona de conforto pra que elas parem um pouco pra refletir sobre o que está acontecendo à volta delas.

Enfim… Lá pelas 11hs teve outra Assembleia, para decidirmos nossa posição oficial: se somos contra a BORA no gramado ou não. Isso dividiu opiniões, mas ficou concluido que protestaríamos contra a construção no gramado. (entendam que não somos contra a biblioteca, mas contra sua localização e contra o cercamento) E será feita uma ocupação do gramado, sempre com atividades artísticas.

A ocupação do gramado

Tem pessoas acampando no gramado. Na quinta-feira eu assisti um pedaço de uma encenação dO Cortiço. Teve também uma festa. Cartazes. Enfim, a ocupação tá rolando. (ao mesmo tempo em que prossegue a construção da BORA) Pode vir, pode chegar.

paralisação e ocupação do gramado

paralisação e ocupação do gramado

Vou encerrar aqui postando um vídeo, feito pelo Guilherme, que explica melhor do que eu várias outras questões.


http://youtu.be/gJlJk8HuN38


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