Olá! Semana passada estive em São Paulo no VI Curso Internacional Orff-Schulwerk, organizado pela Abraorff. Assim como fiz com o Encontro de Educação Musical da Unicamp, vou escrever um “diário” sobre esse curso! Entre aspas porque foi tanta coisa que não tem como escrever detalhadamente sobre tudo, então vou dar uma resumida ao invés de falar dia por dia.
O que é Orff-Schulwerk?
Pra começar, o Orff-Schulwerk (que traduzido seria algo como “método Orff” ou “escola Orff”) é um método de didática musical criado pelo compositor Carl Orff (é, aquele da Carmina Burana). No terceiro dia tivemos uma rápida palestra sobre a escola Orff, com as duas convidadas internacionais, Andrea Ostertag (Áustria) e Soili Perkiö (Finlândia).
Contradizendo o que escrevi acima, elas deixaram claro que o Orff-Schulwerk não é um método (talvez por isso a relutância em traduzir para o português), porque não é algo acabado, é um aprendizado contínuo; uma vida inteira de aprendizado. É por isso também que o curso da Abraorff está em sua sexta edição e várias pessoas fizeram várias vezes – ele acontece a cada dois anos. Um curso nunca é igual ao outro, sempre tem professores diferentes e, mesmo que sejam os mesmos, novas aulas.
Orff busca a palavra grega musiké para a sua definição de como deve ser o ensino da música: uma união entre voz, instrumentos musicais, linguagem e dança; valorizando a habilidade criativa e a improvisação. Os instrumentos utilizados devem ser fáceis de tocar sozinho e em conjunto, para que as crianças tenham facilidade para se expressar com eles.
Existem quatro instituições Orff e 35 associações em diversos países.
O local
O curso foi realizado no Colégio Santo Américo, que fica no Morumbi, na avenida que tem o nome do colégio e cruza a Giovanni Gronchi. Achei necessário falar sobre o colégio porque, olha… que lugar fantástico!! A sala de música do prédio da educação infantil é… não tenho nem palavras pra dizer o quanto eu gostaria de dar aula lá, tem tudo que você pode imaginar nas estantes e um espaço enorme!
Ah, não era permitido tirar fotos das aulas, por isso este post quase não tem fotos. Mas não tinha proibição de tirar fotos do lugar, então deem uma olhada:
Perfeito, né? O colégio é gigante, tinha uma subida enorme entre o prédio da educação infantil (onde era dada a maior parte das aulas) e o refeitório, por exemplo. Só o espaço da educação infantil já é maior do que o colégio em que estudei!
A programação e o curso em si
Aqui uma foto do nosso horário:
Dá pra perceber que foi bastante corrido, né? Em cada intervalo tinhamos um pequeno lanchinho. E um tempo para apenas ficarmos sentados, porque era difícil fazermos isso durante as aulas. Sim: nada de ficar sentado ouvindo um professor e anotando o que ele fala. As aulas eram todas práticas, só no final os professores davam um tempo para as anotações. Durante o decorrer do curso, também recebemos apostilas e folhas com o conteúdo.
Devo dizer que é bastante cansativo passar a semana inteira brincando, dançando e pulando o dia inteiro! Ainda mais se levar em consideração que eu estava indo pro colégio a pé da casa do meu namorado (5 kms), pra economizar um pouco. Pelo menos deu pra comprar um livro com o que economizei em passagem de ônibus! :D
O curso se dividia em básico (com duas turmas) e avançado (para quem já fez o básico três vezes). Pessoas do país inteiro vieram pra fazer o curso, conheci gente de muitos estados! Alguns já tinham feito o curso antes, outros não sabiam o que esperar, assim como eu. Mas minha turma tinha pessoas muito legais! :)
As aulas
Muito bem, falando um pouquinho sobre as aulas em si… Tivemos aula com a profª. Lucilene Silva, que nos mostrou uma enorme quantidade de brincadeiras infantis, em especial cantigas de roda. Quem acompanha o blog talvez saiba do meu interesse por cantigas de roda, estou sempre lendo livros a respeito. Então: é óbvio, mas descobri que a prática é mil vezes melhor do que ler em livros. E a professora teve um cuidado especial preparando uma apostila com todo o conteúdo que trabalhamos, e todo dia dedicando um tempinho da aula para retomar as atividades do dia anterior, para que elas se fixassem na memória. Sério, virei uma grande fã do trabalho da Lucilene, que percorreu o país coletando brincadeiras para preservar a nossa cultura!
Profª Soili Perkiö, um doce de pessoa! As aulas dela, assim como as da Andrea, tiveram o auxílio de um intérprete inglês-português, o Marcelo (um dos alunos mesmo). Mas felizmente eu conseguia entender praticamente tudo que estavam falando. Ela nos ensinou algumas músicas e contou uma história muito legal… e, assim, ouvindo a história, aprendemos como contar histórias! Ela também nos ensinou a tocar xilofone de um jeito bem divertido! Gostaria de ter tido mais aulas com ele, duas foram muito poucas.
A profª Andrea Ostertag deu suas aulas na sala de dança, então já era esperado que ela nos ensinasse a… dançar! Mas nada de apenas repetir movimentos, muito pelo contrário! A ênfase era em improvisar e sentir o que você deveria fazer. Juro que descobri movimentos que nem sabia que meu corpo é capaz de fazer! (eu sou bastante “dura”) Além disso, ela também fez algumas brincadeiras muito legais e nos ensinou algumas danças tradicionais, como Sellenger’s Round. (essa música ficou um tempão na minha cabeça)
Prof Estêvão Marques… Que figura! As aulas deles estão entre as mais divertidas que já fiz! Descobri um novo instrumento que jamais desconfiaria que é um instrumento… a colher! Ele nos mostrou colheres do mundo e nos ensinou a tocar ritmos, e também a dança-los. Além de uma brincadeira de copo maldita que deu um nó na minha cabeça (fome come?) Foi fantástico, do começo ao fim; queria ter tido mais aulas com ele também. Ah, deem uma passada no site dele!
Prof Helder Parente Pessôa nos ensinou um pouco de percussão corporal, jogos rítmicos e como tocar flauta doce barroca.
Danças!
Além das aulas para o nosso grupo, tivemos duas aulas de dança com todos os alunos e professores. A primeira foi com o Estêvão, de danças brasileiras. A segunda foi com o Rubens Oliveira, do grupo Gumboot Dance Brasil. Falando especificamente do Gumboot, adorei a aula! Já conhecia um pouco da dança desde a oficina que fiz com Lilian Sodré (ela estava lá no curso avançado!) no encontro da Unicamp.
Depois de dançar, cantamos Shosholoza e vimos uma apresentação do grupo. Eles permitiram a gravação. Infelizmente a bateria do meu celular acabou e não deu pra gravar o final, devia ter menos de um minuto faltando :(
Livros!
Tinha uma lojinha da Abraorff que funcionava durante o almoço e vendia livros. Comprei A música de todos os tempos, que é um relato de experiência e me interessou bastante, além de caber no meu bolso. (tinha livros muito lindos, mas por mais de 100 reais ;__;)
Além dela, também tinha a lojinha do Rivelino, que parece ser um conhecido vendedor de livros de educação musical! Pena que ele não tem site. Não tenho certeza se era ele que estava no encontro da Unicamp… Enfim, comprei um livro de LIBRAS, porque tenho interesse de trabalhar com surdos desde que li A Musicalidade do Surdo.
A quantidade de livros interessantes que tinha lá… Pelo menos eu vi que não sou a única que compra montes de livros de músicas! Me sinto menos só agora!
Tinha também um moço vendendo instrumentos artesanais lindíssimos! Tinha castanholas com cara de bichinho que, nossa, quero muito! O preço é barato, mas realmente não tinha me sobrado dinheiro nenhum. Pelo menos ele tem um site, assim fica mais fácil de ver. Deem uma conferida! #fikdik
Concluindo…
O formulário de avaliação do curso pedia para descrever em poucas palavras como foi a experiência. As palavras que eu usei foram: inspirador e transformador. Realmente sinto que sou uma outra pessoa agora, com mais ideias e inspirações. Mal posso esperar para coloca-las em prática!
Também foi ótimo conhecer tantas pessoas de diferentes lugares, todos com o mesmo objetivo. No final do curso recebemos uma lista com o contato de todos os membros do grupo, e isso é legal. Falando em diferentes lugares, no começo estava com um pouco de receio das aulas “internacionais”, mas as professoras foram muito queridas e era fácil de entender até pra quem não fala inglês fluente. Afinal, nossa linguagem é a música! Nossas culturas podem ser diferentes, o que torna tudo mais enriquecedor, mas temos isso em comum.
Enfim… Foi um curso bastante caro pros meus padrões de estudante universitária, mas não tenho dúvida de que foi um investimento que valeu cada centavo. Recomendo demais o curso, e quem sabe eu o faça de novo em 2015!
Até a próxima!
Gostaria de saber se para 2015 vai ocorrer o curso.
Maria, o curso acontece ano sim, ano não.