Livro: A Musicalidade do Surdo

Olá! Escrevendo um post pra não deixar o blog abandonado. Essas últimas semanas de aula estão tensas. Faz um tempinho que terminei de ler A Musicalidade do Surdo, vou falar um pouco sobre ele.

Eu adoro as bibliotecas da Unicamp, em especial a do meu instituto. Passo lá pelo menos uma vez por semana (normalmente pra renovar algum livro que já passou do número de renovações virtuais, ou pra devolver). Livros novos são comprados com bastante frequência, e os últimos adquiridos ficam expostos na estante da frente. Sempre que vejo um título interessante, não consigo resistir e pego pra ler. Foi o que aconteceu com este livro.

Como assim, musicalidade do surdo? Nós não pensamos que surdos podem ser musicais, não é verdade? (peraí, Beethoven compôs a nona sinfonia quando estava surdo, e eu considero essa a peça mais linda já escrita até hoje) Enfim, o livro me deixou intrigada e resolvi descobrir como é a musicalidade dos deficientes auditivos.

A autora é Nadir Haguiara-Cervellini, formada como professora de surdos, fez curso de especialização na PUC-SP, diversos cursos de musicoterapia, mestrado e doutorado e tem formação de piano em conservatório. Gostei muito do jeito como ela escreve, sem ser formal e técnico demais. Ela fala bastante sobre as perspectivas da educação musical para surdos e do estigma que eles sofrem na sociedade. Tem várias reflexões filosóficas e uma base para entender o assunto, mas a maior parte do livro é mais prática: Nadir conta o caso de duas jovens, Isadora e Fabiana.

Achei muito interessantes os casos escolhidos, porque eles meio que se contrapõem. Não vou tentar resumir em detalhes aqui, mas Isadora acredita que a música “não é pra ela”, vê a música apenas como um meio de aprimorar sua fala, uma “obrigação”; e tendo nascido em família de músicos, sente muita pressão. Já para Fabiana a música é um prazer. Ela gosta de ouvir o rádio bem alto, canta enquanto realiza atividades domésticas, e toda sua família a incentiva a ouvir e comprar cds; para eles é normal a filha ter essa musicalidade, ela não deveria ser privada da música por causa de sua deficiência.

Gostei muito do assunto e, como educadora musical, quero me aprofundar mais depois, para quem sabe poder trabalhar com deficientes no futuro. Acredito que a música deve, sim, ser para todos! Inclusive, lembrei agora que logo no começo o livro conta a história de Helen Keller, uma pessoa surda, cega e muda, que superou todas as barreiras e desenvolveu uma linguagem própria. Cursou uma Universidade, estudou filosofia, teatro e cinema, aprendeu inglês, francês e alemão. Quanto à música, vou transcrever aqui um trecho de um trecho do livro A Minha Vida de Mulher, publicado por ela. Esse trecho, na íntegra, está no livro da Nadir.

“Estive presente a um dos concertos de Gabriel Owitsch, em Detroit. Fiquei tão junto da orquestra, naquela sala de tão boa acústica, que todo o meu ser pareceu vogar em inundações de harmonia.
(…)
Também Godowsky tocou para mim. Com a mão no piano, enquanto ele executava um noturno de Chopin, senti-me transportada, num tapete mágico, para uma ilha tropical, num desses mares misteriosos de Conrad.
Já tenho ouvido concertos no rádio, colocando a mão numa tampa de ressonância. É-me agradável ao tato uma mistura de diferentes instrumentos – harpas, oboé, trompa, viola, violino nos diferentes estilos, tudo num vitorioso conjunto harmonioso! Por vezes, alguma voz como que salta dos vagalhões profundos, atirando ao ar notas como pétalas de flores sopradas pelos ventos.”
– Helen Keller

Então, é isso aí! Vou devolver o livro na biblioteca; enquanto eu lia pelos corredores do Instituto, algumas pessoas já se interessaram! :)

Detalhes do livro no skoob


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