A prova de aptidão em música da USP Ribeirão Preto

Olá! Semana passada me desloquei até a distante cidade de Ribeirão Preto – de ônibus, 3 horas e meia de Campinas e 5 horas de São Paulo – para fazer as provas de aptidão da USP. Vou falar neste post sobre a prova teórica, como fiz com a prova da Unesp, já que não tem provas antigas na internet.


USP Ribeirão Preto. Tá, eu devia ter tirado uma foto do instituto, mas esta é a paisagem mais comum.

Sobre o curso

Pra quem não sabe, o curso de Ribeirão era minha segunda opção na Fuvest, que se tornou primeira porque não passei na prova de aptidão antecipada do campus de São Paulo.

Ao contrário do que todos imaginavam, a prova foi completamente diferente da prova da USP São Paulo, que, diga-se de passagem, disponibiliza até os áudios das provas antigas para você ouvir. Isso aconteceu por que a partir deste ano o departamento de música de Ribeirão conseguiu independência total de São Paulo para poder fazer o que bem entender. E isso pegou todos os candidatos de surpresa.

Antes de começar a prova teórica, uma senhora explicou isso da independência da USP e falou sobre as mudanças no curso. Em Ribeirão Preto, não há mais a divisão de especialidades no vestibular – bacharelado, licenciatura, composição e regência. Todos os candidatos concorrem às mesmas vagas. A escolha da especialidade será feita depois de um ano de curso.

Isso é estranho! Na minha opinião, falta foco. Alguém que presta um vestibular para música já tem noção do que quer fazer, não tem sentido esperar um ano pra se decidir. Um aluno de bacharelado deve começar a se dedicar mais ao instrumento desde o primeiro semestre.

Sem falar que o manual do candidato não explicava isso. São 3 páginas de instruções e programa de cada instrumento para o campus de São Paulo e uma mísera página para o campus de Ribeirão Preto, por isso a maioria deve ter imaginado que seria igual. Mas, não, foi uma grande surpresa.

Uma menina originalmente estava prestando bacharelado em piano e ia tocar Rachmaninov, que é do programa de 10º ano de piano, por aí… Eu estou prestando licenciatura e ia tocar algo tipo do 5º, 6º ano. É injusto pra nós duas nós estarmos concorrendo à mesma vaga! Ela tocar algo muito mais complexo do que eu é ruim pra mim, mas se eles não ligarem pro nível técnico na avaliação, é ruim pra ela. E quem estava prestando regência, que é incomparavelmente mais difícil? Pelo número de candidatos nem sei se tinha, mas sei lá…

A prova

Como disse, a prova é diferente da prova do campus de São Paulo, que pode ser conferida aqui. É uma prova bem… hum… diferente. Como eles deixaram levar a folha de rascunho ao sair, anotei todas as questões. Foram elas:

  • Ditado: Um ditado, mais complexo que os de SP por ser bem longo e mais rápido.
  • Trechos musicais: A tradicional questão de ouvir trechos de músicas e marcar as características que identificar – compositor, nome da peça, período, gênero, instrumentos, forma…
  • Associação: Sabe aqueles exercícios com duas colunas de palavras que devem ser ligadas? Tipo isso… Tinha uma lista de 11 compositores e 11 características. Você deveria associar o compositor às características e depois dissertar a respeito das associações que fez. Não eram características triviais.
  • Compositores brasileiros: Quatro nomes de compositores brasileiros. Para cada um, você deveria listar mais quatro compositores nacionais da mesma época. Acho super legal uma questão sobre música nacional, mas peraí… isso foi muito específico!
  • Dissertar sobre um tema: Alguns temas aleatórios foram dados e você deveria falar a respeito. Eu escolhi Baixo de Alberti. Também tinha Ars Antiqua e Ars Nova e não lembro os outros.
  • Festival Música Nova: Essa questão falava que Gilberto Mendes é o criador do Festival Música Nova, falava bem do tal festival e dizia que a partir deste ano ele será organizado com a ajuda do departamento de música USP Ribeirão Preto. Ok… e daí? Perguntava sua opinião a respeito. Sério… o que eu deveria responder?? Que bom pra vocês??
  • Instrumentos da orquestra: Você deveria listar os instrumentos presentes em uma grande orquestra e classifica-los por naipe. A lista deveria ser feita seguindo a ordem dos instrumentos em uma partitura de orquestra.
  • Transcrição pra piano: Uma partitura de um quarteto de cordas deveria ser transcrita para piano. Acho que a maior pegadinha era saber transcrever a clave de do pra clave de fa.
  • Caracterizar os termos musicais: Havia uma lista de termos musicais como crescendo, semínima, mf e você deveria caracteriza-los em altura (a), duração (d), intensidade (i), timbre (t) e caráter (c). Sério… que questão boba.
  • Pessoal: Aqui você deveria escrever uma redação dizendo por que resolveu ser músico e quais são suas expectativas profissionais.

Considerações Finais

Eu não vou estudar lá mesmo que seja o único lugar em que eu passe. O que é possível, considerando a concorrência de menos de dois candidatos por vaga. Achei o curso estranho e, digamos, não faz o meu perfil.

Mas valeu a pena ir até Ribeirão Preto pela experiência, e porque conheci muitas pessoas legais e pude refletir bastante sobre muitas coisas.

Talvez este post tenha sido escrito em tom de demasiada revolta ainda pela frustração por não ter passado na aptidão de São Paulo.

E, sim, eu toquei To Zanarkand na prova! O mais impressionante é que eu encontrei outro cara que também tocou Final Fantasy! Quais as chances?! Mais importante, eu toquei outro Steinway!


Atualmente esta foto é o wallpaper do meu celular


12 Responses to A prova de aptidão em música da USP Ribeirão Preto

  1. Que pena saber que não passou em São Paulo… tinha visto em outro post do blog. Acho que a experiência é importante no ramo que você escolheu.

    Um abraço, Patty.

  2. Olá
    Sou de Curitiba, contrabaixista, fui fazer a prova da USP de Ribeirão porque já sou aluna do professor de contrabaixo que dá aula nessa universidade, e seria uma boa oportunidade de estudar com ele sem ter que ficar viajando. Eu já sou formada em música pela Universidade Federal do Paraná, e concordo plenamente com a sua revolta quanto a essa prova, nunca vi nada parecido.
    Ficou muito claro que eles estavam é fazendo uma seleção de perfil e não uma prova de aptidão musical. Pedindo conceitos muito aprofundados de história da música entre outra coisas 'avançadas', para mim parecia mais uma prova de pós-graduação em música, do que de entrada numa graduação.
    Enfim, encontrei seu blog por acaso enquanto buscava na internet o gabarito dessa prova de Ribeirão, mas obviamente eles não vão divulgar…
    Paciência, nesse mundo da música as surpresas são muitas.
    Abraço.

  3. Oi, Renata! Também duvido muito que eles divulguem o gabarito como faz a ECA da USP-SP… Concordo com o que você falou. O mais revoltante foi não terem explicado isso antes, todos devem ter se surpreendido na hora. Meu professor disse que isso não quer dizer necessariamente que o curso seja ruim; ele tem razão, mas ficou a impressão de que foi uma coisa feita muito "em cima da hora".

    Obrigada pelo comentário, e boa sorte pra você! Acredito que a sua experiência deve ter contado bastante na entrevista.

  4. Oi, Patty,
    Estou com uma dúvida. Me disseram que se você passa em um curso na USP Ribeirão, depois de um ano você pode pedir transferência para a USP SP. Você já ouviu isso, sabe se é verdade?
    Obrigada.

  5. Liza, eu cheguei a pesquisar isso vários meses atrás, então não lembro direito onde vi… Acho que foi aqui: http://www3.eca.usp.br/graduacao/transferencia

    Não tenho certeza, mas mesmo também sendo Usp, acho que a transferência seria considerada externa… Até é possível fazer isso, o problema é que você depende da existência de vagas no curso. E eu acredito que no curso de música seja difícil abrirem vagas pra transferência =|

  6. Ah, entendi. Que pena, senão ficaria mais fácil npe, já que a concorrência é mais baixa em Ribeirão.
    Mas muito obrigada pelo esclarecimento! (:

  7. Foi a melhor leitura que vi de uma prova do Departamento de Música. Sou aluno e estou no último ano. Esse escalabro não acontece somente no vestibular. Saibam que em 2011 abriram bacharel para uma infinidade de instrumentos, mas sem professor. Atualmente tem bacharéis em: violino, violoncelo, contrabaixo, viola, flauta, trompete, fagote, entre outros. Mas não tem professores para essas áreas. Parece piada. #SQN http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ribeirao/129383-

  8. Jonathan, infelizmente descobri que na Unicamp acontece a mesma coisa. Não tem professor de violão erudito há uns três ou quatro anos, até que finalmente fecharam o curso no ano passado. Só agora saiu o edital pra contratação de um professor novo. Recentemente contrataram um professor de violoncelo, estava sem também. Tem uma professora pra licenciatura inteira, ela dá uma quantidade absurda de disciplinas na graduação, na pós-graduação, cuida dos projetos da licenciatura (que não são poucos) e orienta todos os alunos!
    Inclusive quinta agora vai ter assembleia geral dos estudantes do Instituto de Artes sobre a falta de professores e falta de estrutura (física mesmo) do instituto.
    É lamentável saber dessas coisas…

  9. Só que tem um porém: os cursos foram abertos sem professores. E outra: não tem especialista em Educação Musical.

  10. Entendi, Jonathan… Isso é gravíssimo, porque as pessoas prestam o curso e não fazem a menor ideia do que vão encontrar. Não tem esse tipo de informação, ninguém vai imaginar que está se inscrevendo em um curso que não tem professor!!